Recrutamento às cegas e diversidade nas empresas: solução ou ilusão?

Com frequência, profissionais de gestão de pessoas se orgulham de adotar o recrutamento às cegas (também chamado de seleção às cegas) para compor suas equipes, acreditando escolher sem considerar aspectos identitários como gênero e raça para priorizar justiça na seleção.

No entanto, como veremos, esse método nem sempre promove diversidade e inclusão de forma sustentável, especialmente quando não está integrado a políticas e práticas organizacionais mais amplas.

Este artigo propõe um debate sobre o termo e, principalmente, sobre as práticas de recrutamento, seleção e avaliação de desempenho que sustentam equipes mais diversas e inclusivas.

Recrutamento às cegas

O que é recrutamento às cegas e como funciona.?

Nos últimos anos, o conceito ganhou espaço nas discussões de diversidade e inclusão no mundo corporativo como forma de reduzir viés na triagem inicial.

Durante o processo, informações identificáveis como nome, gênero, idade, raça e até universidade de origem são ocultadas para que vieses conscientes e inconscientes não interfiram na avaliação de competências e habilidades.

À primeira vista, a prática parece uma solução justa e eficaz. Mas será que, sozinha, ela realmente transforma as desigualdades no mercado de trabalho?

Benefícios: quando a prática ajuda de fato

É inegável que o modelo traz ganhos. Ao retirar informações que com frequência alimentam preconceitos, abre-se espaço para que talentos diversos sejam analisados pelo que de fato entregam em termos de competência. Essa prática pode:

  • Reduzir discriminação direta em etapas iniciais do recrutamento.
  • Ampliar oportunidades para grupos sub-representados, que frequentemente são descartados antes mesmo de uma entrevista.
  • Tornar processos mais justos, valorizando desempenho e habilidades.

Nesse sentido, a Recrutamento às cegas pode implicar em aumento na diversidade de perfis selecionados para fases avançadas do recrutamento.

Limites e riscos: quando o recrutamento às cegas vira ilusão?

Esconder identidade não elimina barreiras históricas de acesso desigual à educação, tecnologia, idiomas ou experiências internacionais, que continuam afetando trajetórias profissionais. O Recrutamento às cegas carrega limites importantes que precisam ser considerados:

  • Invisibilidade das desigualdades estruturais: esconder identidade não elimina as barreiras históricas de acesso desigual à educação, tecnologia, idiomas ou experiências internacionais.
  • A ilusão de neutralidade: apagar gênero, raça ou idade pode também apagar vivências fundamentais que enriquecem o ambiente corporativo.
  • Falta de mudança sistêmica: se não vier acompanhada de políticas estruturais, a Recrutamento às cegas se torna apenas uma medida paliativa, sem atacar as causas do preconceito.

Se a empresa quer crescer em inovação e garantir sucesso reputacional e financeiro, precisa superar as limitações e começar seu processo de transformação como foco no recrutamento.

Riscos de um tratamento superficial da diversidade

Outro risco é a prática ser usada como “solução rápida” para empresas que desejam parecer mais inclusivas sem se comprometer com mudanças culturais profundas.

Ao tratar diversidade apenas como estatística, as organizações correm o perigo de reforçar a ideia de que basta “não ver diferenças” – quando, na verdade, o caminho está em valorizar as diferenças.

Liderança inclusiva e políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão como base

É aqui que entra a responsabilidade das lideranças. Recrutamento às cegas pode ser um passo inicial, mas não substitui:

  • Políticas robustas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), aplicadas em todos os níveis da organização.
  • Treinamento contínuo para recrutadores e gestores, com foco em vieses inconscientes, práticas inclusivas e valorização de trajetórias diversas.
  • Cultura corporativa comprometida com a inclusão real, que vai além do recrutamento e perpassa a retenção, o desenvolvimento e a ascensão de talentos.

A liderança inclusiva deve ser capaz de conhecer e promover o máximo potencial de cada pessoa de sua equipe, muito além da gestão das metas de desempenho. 

Recomendações práticas e indicadores de impacto

Para empresas que desejam resultados concretos, algumas estratégias podem fortalecer o processo:

  • Combinar Recrutamento às cegas com programas de apoio e desenvolvimento para grupos historicamente sub-representados.
  • Garantir transparência nos processos de recrutamento e promoção.
  • Valorizar as identidades e histórias dos colaboradores, assegurando que a inclusão não seja apenas quantitativa, mas também qualitativa.
  • Estabelecer metas de diversidade acompanhadas de indicadores de impacto.

Recrutamento às cegas pode ser uma ferramenta útil, mas não é uma solução definitiva. A verdadeira transformação acontece quando as empresas reconhecem e enfrentam desigualdades estruturais, criando políticas que não apenas neutralizam vieses, mas também celebram e valorizam identidades diversas. A inclusão gera inovação e sucesso!

Inovação, engajamento e sucesso organizacional surgem quando a inclusão é plena, quando cada colaborador pode ser visto, ouvido e respeitado em sua totalidade.

Entre em contato com a Mosaice e descubra como tornar a sua empresa mais diversa e inclusiva.

Sócia fundadora, consultora e palestrante
Mestra e bacharela em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mariane possui formação complementar em Direito e Políticas Públicas pela Université de Lille, na França, e Humanidades pela Universidad de la República, no Uruguai. Também é bacharela em Letras pela UFMG.