Em uma manhã comum, em um vestiário de academia, um dos consultores da Mosaice ouviu uma conversa que capturou a essência de um problema muito maior. Em meio a discussões sobre trabalho, um homem, provavelmente com a sensação de que falava com liberdade, lançou a frase: “Quem lacra não lucra.” A frase foi dita com uma certa indignação e, à primeira vista, poderia passar despercebida como um comentário informal e inofensivo. Mas a reflexão sobre o que ela realmente significa revela muito mais do que uma simples opinião.
O comentário veio em meio a uma discussão sobre a decisão da Microsoft de reduzir sua equipe de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI); Era possível perceber que, para esse homem, promover ações de DEI era “lacrar”, e “lacrar” é algo que poderia colocar essas políticas em um lugar de desimportância, talvez até prejudicial para o sucesso das empresas.
Sob o manto dessa aparente simplicidade, o comentário expôs uma visão carregada de preconceitos e desinformação, que associa iniciativas de inclusão à superficialidade e que, muitas vezes, surge do medo de perda de espaço hegemônico de homens brancos e heterossexuais em um ambiente corporativo cada vez mais diverso.
Mas, será que ele está certo? Será que “lacrar”, no sentido de promover a diversidade, não traz lucros? Neste artigo, vamos explorar como essa visão está equivocada e mostrar o valor da diversidade dentro das empresas. Vamos trazer dados e exemplos concretos de que investir de maneira séria em DEI não só gera lucros, como é essencial para o sucesso no mercado atual.
Lacrar: Superficialidade ou profundidade?
Quando alguém utiliza a palavra “lacrar” em um contexto corporativo, muitas vezes há a intenção de menosprezar a profundidade e a seriedade das ações de Diversidade, Equidade e Inclusão. O termo, que começou como uma gíria popular na internet e foi amplamente adotado pela comunidade LGBTQIAP+, carrega a ideia de “arrasar” ou “ter sucesso” de forma chamativa. No entanto, no contexto da frase “Quem lacra não lucra”, o verbo ganhou um tom depreciativo, como se fosse uma atividade meramente estética, sem impactos reais.
O que esse homem, e tantos outros que compartilham dessa visão, não percebem é que as iniciativas de DEI são muito mais do que uma questão de “aparência”. Elas estão enraizadas em práticas profundas de transformação organizacional, e, quando bem implementadas, trazem mudanças significativas que afetam diretamente a lucratividade, a inovação, a retenção de talentos e a competitividade no mercado.
Os benefícios de investir em Diversidade, Equidade e Inclusão
Empresas que adotam práticas sérias de Diversidade, Equidade e Inclusão não estão apenas lacrando — elas estão ganhando terreno em um mercado cada vez mais competitivo. Vamos analisar algumas das principais áreas em que DEI traz benefícios mensuráveis:
1. Inovação e criatividade
A diversidade de pessoas em uma equipe impulsiona a criatividade. Isso não é apenas uma opinião, mas um fato comprovado por pesquisas. Estudos mostram que equipes diversas, compostas por pessoas de diferentes origens, culturas, gêneros e orientações sexuais, são mais propensas a apresentar soluções inovadoras. Isso acontece porque pessoas com diferentes perspectivas e experiências de vida buscam resolver problemas de maneiras que equipes homogêneas não conseguiriam imaginar.
Segundo um estudo da consultoria organizacional Korn Ferry, empresas com equipes diversas impulsionam a criatividade:
- Equipes diversas e inclusivas tomam decisões melhores em 87% das vezes. Isso ocorre porque perspectivas variadas enriquecem o processo de tomada de decisões, levando a soluções mais bem fundamentadas e inovadoras.
- Empresas com diversidade acima da média relatam 19% mais receita de inovação. Isso mostra que a diversidade não apenas melhora a criatividade, mas também tem um impacto direto nos resultados financeiros.
- 75% dos das pessoas inovadoras inclusivas são mais propensos a ver suas ideias transformadas em produtos, o que indica que a inclusão acelera o ciclo de inovação, desde o planejamento até a execução.
2. Retenção de talentos e satisfação dos colaboradores
Ambientes inclusivos são fundamentais para a retenção de talentos. Um local de trabalho onde as pessoas se sentem valorizadas e incluídas, independentemente de sua origem ou identidade, é um lugar onde elas estão dispostas a investir suas habilidades e energia a longo prazo. Empresas que promovem a equidade e a inclusão têm colaboradores mais satisfeitos, o que se traduz em menos rotatividade e em um clima organizacional mais saudável.
Estudos da Loeb Leadership, consultoria de gestão e liderança, mostram que quando os funcionários se sentem pertencentes e reconhecidos, o engajamento no trabalho aumenta significativamente , o que resulta em uma taxa de retenção mais alta.
Um relatório da McKinsey indica que empresas com equipes executivas etnicamente diversas são 33% mais propensas a superar seus concorrentes em lucratividade, e aquelas que promovem uma cultura inclusiva têm 18 vezes mais chances de manter seus funcionários a longo prazo.
Além disso, uma pesquisa da Deloitte revela que equipes inclusivas têm 17% mais chances de reportar alta performance e que a inclusão é um motor crucial para o sucesso organizacional
3. Vantagem competitiva e imagem de marca
A percepção pública de uma empresa também é profundamente impactada pelas suas iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão. Consumidores estão cada vez mais atentos às práticas das marcas que consomem e tendem a se conectar mais com empresas que demonstram compromisso com a justiça social.
Segundo um estudo da Deloitte, 57% dos consumidores são mais leais a marcas que se comprometem a abordar desigualdades sociais de forma prática. Além disso, a pesquisa revelou que 94% da Geração Z espera que as empresas tomem uma posição sobre questões sociais importantes, e 90% preferem comprar de marcas que são percebidas como benéficas para a sociedade
Esses dados reforçam que os consumidores modernos valorizam mais do que apenas produtos ou serviços: eles buscam marcas que refletem seus valores e que demonstrem, de maneira concreta, seu compromisso com a diversidade e a equidade em suas operações e mensagens.
4. Redução de riscos legais e melhoria do clima organizacional
Empresas que falham em promover a equidade e a inclusão enfrentam um risco maior de processos judiciais e crises de reputação. Casos de assédio, discriminação ou falta de equidade podem não só trazer perdas financeiras significativas, como também destruir a confiança dos colaboradores e do público na empresa.
Ao contrário, empresas que implementam políticas eficazes de inclusão criam um ambiente de trabalho mais seguro e saudável, mitigando esses riscos e criando uma cultura de respeito e colaboração.
Refutando o “Quem lacra não lucra”
Em estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG) e a Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, revelou que a diversidade está diretamente relacionada ao aumento da inovação e, consequentemente, dos lucros nas empresas. A pesquisa, que incluiu mais de 1.700 empresas em oito países, mostrou que organizações com maior diversidade em suas equipes de gestão, levando em conta aspectos como gênero, idade, nacionalidade, carreira e formação educacional, registraram 19% mais receitas vindas de inovação e 9% mais margens EBIT (lucro antes de juros e impostos) em comparação com empresas menos diversas.
Além disso, o estudo destacou que as empresas que implementam práticas inclusivas, como liderança participativa e comunicação aberta, conseguem elevar ainda mais suas receitas de inovação, com um impacto potencial de até 12,9% no aumento das receitas. Esses números evidenciam que a diversidade, a equidade e a inclusão não apenas criam um ambiente de trabalho mais justo, mas também geram resultados financeiros concretos, comprovando que investir em DEI é lucrativo.
Essas descobertas desmentem a ideia de que “quem lacra não lucra”, ao mostrar que as empresas mais diversas são também as mais inovadoras e rentáveis. Diversidade, quando bem gerida, gera inovação, que por sua vez, impulsiona o crescimento financeiro.
Dados comprovam: Lacra e lucra!
Se ainda restam dúvidas sobre o impacto financeiro positivo de investir em DEI, é importante destacar mais algumas estatísticas. Segundo a McKinsey, empresas com mais diversidade nas equipes executivas têm um impacto significativo na performance financeira das empresas.
Em um de seus estudos, ela compara a probabilidade de superação financeira de empresas que investem em diversidade de gênero e étnica e aquelas que investem pouco, dentro de um universo específico. Os resultados foram os seguintes:
Diversidade de gênero
- Em 2014, empresas no quartil superior em diversidade de gênero (ou seja, estavam entre as 25% mais diversas) tinham uma probabilidade 15% maior de superar seus pares financeiramente. Esse número cresceu para 21% em 2017 e 25% em 2019, mostrando uma tendência positiva ao longo do tempo.
Diversidade étnica
- Em termos de diversidade étnica, a correlação com o desempenho financeiro é ainda mais forte. Em 2014, empresas no quartil superior tinham 35% mais chances de superar financeiramente as empresas no quartil inferior. Esse número caiu ligeiramente para 33% em 2017, mas subiu novamente para 36% em 2019, refletindo a importância crescente da diversidade étnica no sucesso financeiro.
O estudo também sugere que, quanto maior a diversidade nas equipes de liderança, maior a probabilidade de uma empresa obter resultados financeiros acima da média, tanto em termos de gênero quanto de diversidade étnica.
Conclusão: Lacrar é necessário
Agora que entendemos os benefícios claros e diretos das práticas de DEI, fica evidente que a frase “Quem lacra não lucra” não passa de um mito baseado em desinformação e preconceitos. Esse tipo de visão não compreende que, ao promover a diversidade e a inclusão, as empresas estão não só lacrando, mas também criando um ambiente sustentável para o sucesso a longo prazo.
A ideia de que essas práticas são superficiais e focadas apenas na aparência ignora o imenso valor que a diversidade agrega às empresas, tanto em termos de capital humano quanto financeiro.
Em última análise, a frase “Quem lacra não lucra” revela uma falta de compreensão sobre o que realmente impulsiona o sucesso nas empresas modernas. A diversidade, a equidade e a inclusão não são “modismos” ou “lacrações”, mas componentes essenciais para construir negócios inovadores, lucrativos e preparados para enfrentar os desafios do futuro.
Então, sim, quem lacra, lucra. E lucra muito.Na Mosaice, estamos comprometidos em ajudar sua empresa a entender e implementar práticas de Diversidade, Equidade e Inclusão, mostrando que essas iniciativas vão muito além de “lacrar”: elas criam as bases para o sucesso sustentável e o crescimento contínuo. Entre em contato conosco e comece sua jornada de transformação.