No dia 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data que nos convida a refletir sobre as contribuições, lutas e desafios enfrentados pelas mulheres negras em nossa sociedade. Aqui na Mosaice, todo o mês de julho é tempo de reflexão e celebração das mulheres negras.
Em um país desigual social e economicamente, como o Brasil, as mulheres negras são frequentemente invisibilizadas no campo do trabalho, seja no ambiente privado, com o trabalho doméstico, ou no ambiente público, nas empresas e instituições.
Há alguns anos, defendi minha dissertação de mestrado chamada “Trabalhadoras domésticas brasileiras: entre continuidades coloniais e resistências“. A dissertação foi fruto de anos de trabalho como mediadora de conflitos em um aglomerado de favelas de Belo Horizonte.
Ali, atendi diversas mulheres negras que tinham mais de uma jornada de trabalho, se ocupavam do trabalho do cuidado, em casa, trabalhavam fora exercendo funções, geralmente mal remuneradas, como trabalhadoras domésticas da capital mineira, e atuavam como agentes políticos em sua comunidade.
Ao observar esse cenário, resolvi investigar a ligação entre o passado colonial brasileiro e o contexto do trabalho doméstico remunerado no país.
A partir de dados do IBGE, é possível visualizar que as relações de trabalho são moldadas por questões raciais e de gênero, categorias que devem ser analisadas em conjunto, revelando sua interseccionalidade. A realidade brasileira nos mostra que a divisão sexual e racial do trabalho configura a forma de conceber e perceber o mundo do trabalho. Assim, as mulheres racializadas enfrentam duas vezes os desafios da inserção e crescimento no mercado de trabalho.
Neste texto, baseado em anos de estudo sobre o tema, quero destacar os obstáculos que as mulheres negras encontram no mercado de trabalho e as soluções que têm sido implementadas por empresas comprometidas com a equidade e a justiça social.
Desafios enfrentados pelas mulheres negras no mercado de trabalho
As mulheres negras brasileiras enfrentam uma série de desafios únicos no mercado de trabalho. A interseccionalidade das opressões de gênero e raça resulta em barreiras significativas que dificultam seu acesso e permanência em posições de destaque e liderança. Alguns desses desafios incluem:
- Discriminação racial e de gênero: A discriminação sistêmica limita as oportunidades de emprego e promoção para mulheres negras. Elas frequentemente enfrentam preconceitos explícitos e implícitos que impactam suas trajetórias profissionais.
- Desigualdade salarial: Mulheres negras geralmente recebem salários inferiores aos de seus colegas brancos e homens pretos, mesmo quando ocupam as mesmas funções. De acordo com as estatísticas de gênero do IBGE, as mulheres recebem menos de 80% que os homens. Esta disparidade salarial reflete a desvalorização histórica e estrutural de seu trabalho.
- Falta de representatividade: A sub-representação de mulheres negras em posições de liderança e nos setores de alto escalão reforça estereótipos e limita a diversidade de perspectivas dentro das empresas. O estudo Women in the Workplace afirma que as mulheres negras enfrentam a maior queda de representatividade à medida que avançam na hierarquia: geralmente, a representação de mulheres negras diminui em dois terços.
- Condições de trabalho precárias: Muitas mulheres negras estão concentradas em empregos informais e precarizados, com poucas garantias trabalhistas e acesso limitado a benefícios como licença-maternidade e seguro saúde. No mesmo estudo do IBGE, concluiu-se que as mulheres pretas e pardas têm as maiores taxas de informalidade, passando de 45% das ativas.
- Dificuldade de promoção: As mulheres enfrentam barreiras no avanço de suas carreiras, como falta de acesso a treinamentos e oportunidades de desenvolvimento profissional. Mulheres têm menos chances de serem promovidas.
- Desgaste emocional: O estresse de trabalhar em ambientes hostis e lidar com discriminação e microagressões pode causar danos psicológicos às mulheres negras.
- Microagressões: Elas são frequentemente alvo de comentários e comportamentos ofensivos e discriminatórios em seus locais de trabalho, como frequentes interrupções e os comentários sobre o seu estado mental, o que gera um sentimento de isolamento. Mulheres negras têm três vezes mais chances do que mulheres brancas e homens de precisar fazer uma mudança de linguagem para se adaptar a seus pares.
Além disso, é preciso reafirmar que as estruturas sociais racistas, machistas e desiguais economicamente atuam nas estruturas das organizações, criando uma resistência às mudanças em prol de mais diversidade e inclusão.
Empresas e instituições precisam reconhecer que as estruturas sociais que hierarquizam gênero e raça atuam fortemente no mercado de trabalho e suas organizações podem não ser ambientes inclusivos e seguros para as mulheres negras.
E para transformar esses ambientes em espaços onde as mulheres negras possam ser lideranças, ter salários justos e compatíveis com os de seus pares e onde tenham a oportunidade de progressão de carreira, é preciso implementar práticas que entendam a diversidade das trabalhadoras e trabalhadores e que essa diversidade é ferramenta necessária para a inovação e o crescimento sustentável dos negócios.
O que sua organização pode fazer para promover a equidade de gênero e racial
Reconhecer os desafios é apenas o primeiro passo. Felizmente, muitas organizações têm adotado políticas e práticas para promover a inclusão e a equidade racial e de gênero no ambiente de trabalho. Aqui estão algumas das soluções mais eficazes:
- Programas de Mentoria e Capacitação: Programas específicos para mulheres negras podem ajudá-las a desenvolver habilidades e a construir redes profissionais que oportunizem sua ascensão na carreira.
- Políticas de Diversidade e Inclusão: A criação de políticas de diversidade e inclusão inclui o estabelecimento de metas para a contratação e promoção de mulheres negras, bem como a formação de comitês dedicados a monitorar o progresso dessas iniciativas.
- Treinamento Antirracista e Sensibilização: Investir em treinamentos antirracistas e de sensibilização para todos os funcionários ajuda a criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e consciente das dinâmicas de poder e privilégio.
- Flexibilidade e suporte: Entre as possibilidades estão oferecer condições de trabalho flexíveis, como trabalho remoto e horários adaptáveis, além de suporte específico para as necessidades das mulheres negras, como programas de saúde mental e bem-estar.
- Parcerias com organizações de Advocacy: Colaborar com organizações que lutam pelos direitos das mulheres negras pode trazer insights valiosos e fortalecer as iniciativas de inclusão e equidade dentro da empresa.
Essas práticas podem fazer a diferença. Ao implementar essas estratégias, as empresas e instituições podem criar oportunidades mais equitativas e inclusivas para as mulheres negras, ajudando-as a superar os desafios históricos e estruturais que enfrentam no mercado de trabalho.
O mês de julho e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é uma oportunidade para celebrarmos a resiliência, a força e as conquistas dessas mulheres. Ao mesmo tempo, é um lembrete de que a luta por equidade e justiça no mercado de trabalho continua.
Reafirmamos o compromisso da Mosaice com a inclusão e a promoção de um ambiente de trabalho onde todas as mulheres, independentemente de sua raça ou origem, possam prosperar e alcançar seu pleno potencial. Juntas, podemos construir um futuro mais equitativo e inclusivo para todas.
Quer participar disso com a gente? Entre em contato.