Trabalhar a partir do cuidado é uma prática ancestral que vem de longe. É aprender que precisamos semear para colher, cuidar de tudo que nos cerca e entender que somos parte do todo. Somos parte da natureza.
Esse é um chamado para o encontro de olhares e perspectivas. Se localizar no mundo e contribuir a partir de sua experiência de vida no ambiente de trabalho é um potente caminho para a construção de espaços de cuidado.
Conhecendo e cuidando do nosso espaço de trabalho
As práticas de cuidado são mais antigas do que podemos imaginar. O pensador indígena David Kopenawa afirma que, na filosofia yanomami, “conhecer” significa “cuidar de maneira eficiente”. Já na cultura ocidental, e apesar do enorme conhecimento que produzimos, não fomos capazes de garantir o cuidado necessário às florestas.
Como unir conhecimento e cuidado no nosso dia-a-dia? E no nosso espaço de trabalho? Como garantir uma divisão justa do cuidado entre homens e mulheres?
(Re)conhecer quem faz essa jornada conosco talvez seja um primeiro passo para cuidar de maneira eficiente deste local no qual passamos tantas horas do nosso dia. As pessoas carregam consigo histórias, esperanças e medos. Viver não é tarefa simples e o trabalho é parte da vida. Entender a diversidade de pessoas que habita o mesmo espaço é criar oportunidade para intervenções, empatia e solidariedade.
Nossas coisas – coisas mesmos, como fotografias, canecas, bloquinhos de anotação – também compõem quem somos, é um pouco da nossa identidade materializada em artefatos cotidianos que todo mundo pode ver. Um ambiente de trabalho aliado ao cuidado é feito disso, de memórias que relembram quem outrora ali esteve e que não deixam os momentos marcantes e desafiadores caírem no esquecimento. É feito de armários em que cada uma/um tem seu espaço, de uma fruteira cheia, na qual se compartilham as frutas da estação, daquele cafezinho que está sempre quente.
Nem só de gente e coisas é feito o espaço de trabalho. As plantas podem ser bons indicadores do cuidado. Repare na sua empresa: em alguns cantos elas estão verdes e, em outros, prestes a se perder pela falta de água e de luz? Plantas são como pessoas: precisam de cuidados. Uma educação para a atenção permite reconhecer os desafios colocados no ambiente de trabalho e cuidar de maneira eficaz de todos os seres que constituem o espaço.
Cartografias e o nosso espaço de trabalho
A maneira tradicional de organizar o espaço geográfico trata o mundo como limitado por uma única lógica, como se o pertencimento, as territorialidades e as múltiplas formas sobre onde e como se habita não influenciassem as representações e as percepções que construímos sobre o mundo.
Cartografar o ambiente de trabalho é abrir novas reflexões, permitindo melhorias na qualidade do espaço, maior cooperação entre as/os funcionárias/os e aprofundamento de relações.
Quais as diferenças de uma cartografia de um ambiente de trabalho feita por homens, feita por mulheres e feita de forma coletiva? A compreensão do espaço e as múltiplas formas pelas quais as pessoas o experienciam demonstram formas singulares de viver e de se relacionar com o trabalho. A cartografia revela-se, assim, como uma metodologia interessante para se identificar onde, com quem e como se trabalha. Muito além das fronteiras, ela permite produzir conexões e compreender as maneiras diversas e necessárias de cuidado.
Agora vamos caminhar juntas/os, com a contribuição das diferentes perspectivas que compõem a nossa equipe, e cartografar que espaço é este que trabalho:
- Quem são essas pessoas que aqui trabalham? Quais são suas histórias de vidas (onde nasceram, onde cresceram e como chegaram até aqui)?
- Que elementos compõem esse espaço de trabalho: Há plantas e animais? Fotografias? Cartazes? História de quem por ali passou? Como é o bem-estar?
- Identificamos espaços compartilhados como cozinhas? Áreas abertas e de descanso? Jardins e hortas? Já houve almoços e lanches coletivos? Festas e comemorações de aniversário?
- Estamos cuidando de quem cuida do nosso espaço de trabalho?
Vamos juntas/os?
Esse é um dos importantes aprendizados que trazemos em nosso balaio de saberes. Somos Danúbia e Helena, duas educadoras populares, com trajetórias distintas que se encontram na prática e vivência da agroecologia para produzir projetos que tenham o cuidado, a escuta e a formulação coletiva como princípio da ação.
A potência do olhar em dupla amplia nossa visão e possibilita chegarmos em pontos que sozinhas possivelmente não conseguiríamos.
Quer experienciar mais de perto estes aprendizados sobre o cuidado no espaço de trabalho? Segue a Mosaice e os serviços que estamos ofertando por aqui.
Texto escrito por Danúbia Gardênia e Helena Lopes, palestrantes e integrantes do Núcleo Sócio Ambiental da Mosaice.