Hoje é o Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. Neste texto, trazemos algumas reflexões sobre a importância desse marco para a comunidade LGBTQIAP+ e a importância desta causa.
As pautas da comunidade LGBTQIAPN+ têm avançado especialmente nas últimas duas décadas. Em maio de 2011, celebramos a decisão histórica do reconhecimento da união estável homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal, hoje já equiparada ao casamento civil. Alguns anos depois, em junho de 2019, a LGBTfobia foi finalmente equiparada aos efeitos previstos na Lei do Racismo (Lei 7.716/1989), pelo mesmo Tribunal.
A atuação do Poder Judiciário brasileiro é notória, em face da morosidade do Poder Legislativo em garantir o acesso a direitos essenciais para as populações marginalizadas. Este fato é sintomático e espelha os conflitos ainda enfrentados em nosso país. Para compreendê-lo, precisamos voltar ao denominador comum dessa comunidade: a discriminação.
Reflexões sobre aceitação: Minha jornada e a realidade das pessoas LGBTQIAP+ no Brasil
Lembro-me de quando me assumi, aos 18 anos, e ouvi de pessoas próximas, preocupadas com meu futuro, que “os homossexuais são seres muito tristes. Têm uma vida infeliz. São deprimidos”. Lembro-me de explicar que o motivo deste pensamento era justamente a discriminação dentro das familias e na sociedade. Lembro-me de que, por muitos anos, ocupei-me em buscar boas relações e referências que me afastassem daquela definição.
Sendo uma homem cisgênero, moreno claro e de classe média, estou consciente de que sofro uma discriminação muito pontual – quando me exponho afetivamente com meu marido em público. Talvez esse perfil seja o mais tolerável dentro do espectro da comunidade, mas como deve ser a realidade de outras pessoas?
Em meu trabalho com o grupo de acolhimento e ação socialmente engajada “Medita, Bicha!”, no Rio de Janeiro, testemunhei realidades de pessoas nas mais diversas condições de vida, sendo mais marcantes os relatos de sobrevivência das mulheres negras transexuais. São relatos de abandono familiar, violência nas ruas e histórico de difícil acesso à educação e ao mercado de trabalho.
O que me alegra é poder testemunhar, também, iniciativas recentes de inclusão no sistema educacional e mercado de trabalho em nosso país. Contudo, para que essas iniciativas se tornem políticas consolidadas, é necessário um trabalho coletivo acerca da discriminação.
O papel da conscientização na luta contra a discriminação
A discriminação que permeia nossa cultura e sociedade funcionou por milênios na base do medo, como defesa contra o estrangeiro, o diferente e o ameaçador, aquele que pode nos ferir, roubar nossas riquezas ou fazer mal a nossa família. Também foi usada como instrumento para subjugar e marginalizar populações, atribuindo a características físicas e comportamentais qualidades depreciativas, que justificariam sua ridicularização e extermínio.
Algumas formas de discriminação já são combatidas pelo Estado, mas outras persistem veladamente e requerem um posicionamento firme e articulado para serem desmanteladas. Esta ação, contudo, depende de uma transformação em diversos níveis, inclusive com relação ao preconceito que carregamos dentro de nós.
Trabalhar a discriminação é trabalhar sua relação com o outro e como você estabelece vínculos. É preciso olhar em volta e avaliar o quão diversos são seus ciclos sociais e o quanto da vida de pessoas LGBTQIAP+ você se permite conhecer. Se você avaliou que tem pouco ou nenhum contato, não é um problema, mas um começo para um bom exercício de percepção.
Comece observando o que lhe vem à mente quando ouve as palavras “gay”, “travesti”, “lésbica”. Observe como se sente com essas referências. Se você não conhece ninguém próximo, sugiro que se esforce um pouco e observe melhor, porque estamos em todas as partes, classes sociais, corpos, etnias, cores, religiões e profissões.
Experimente fazer um exercício chamado “Assim como eu”, sugerido pela mestra budista Pema Chödrön. Adaptando-o para nosso caso, volte às imagens que construiu com as palavras “gay”, “travesti” e “lésbica”. Visualize uma dessas pessoas e diga mentalmente “Assim como eu, ela deseja uma vida melhor”, “Assim como eu, ela quer ser amada e respeitada”.
Talvez depois de algum tempo, seja capaz de perceber um incômodo quando alguém faz algum comentário maldoso ou uma piadinha “sem intenção de ofender”. Se isso acontecer, será uma boa oportunidade de interromper o ciclo do preconceito, seja não reproduzindo essas falas, seja enfraquecendo o argumento com uma simples pergunta: “Eu não entendi qual é a graça. Pode me explicar?”. Assim, a partir de uma mudança pessoal, talvez seja mais fácil compreender a importância de uma mudança na cultura organizacional.
Diversidade e Inclusão: Transformando a cultura corporativa
O combate à discriminação percorre todo o ambiente corporativo, começando pelas entrevistas. Uma empresa pode abrir vagas que incluam pessoas transexuais, mas o processo seletivo geralmente torna inviável seu sucesso. Muitas vezes, recebem apenas um retorno sem muitas explicações sobre “não ter o perfil” para atendimento ao público.
Tão importante quanto introduzir iniciativas de diversidade, inclusão e equidade é a empresa assumir a responsabilidade pela integridade de seus colaboradores.
Te convido a uma reflexão: como sua empresa tem conduzido iniciativas contra a discriminação? Do seu ponto de vista e história pessoal, o que pode fazer para mobilizar os demais? Caso encontre dificuldades em unir pessoas que conversem com suas ideias e angústias, a Mosaice detém os instrumentos necessários para lhe orientar. Nossa missão é contribuir para o sucesso das ações de diversidade, inclusão e equidade em sua empresa, ouvindo seus anseios e propondo ações conjuntas que reestruturem a cultura organizacional.
O Brasil é um país culturalmente diverso e se orgulha disso, mas é urgente que esse discurso seja uma realidade concreta para as minorias marginalizadas, especialmente em empresas e organizações. Hoje, a diversidade não fortalece apenas os colaboradores de uma empresa, mas impulsiona a capacidade de criatividade e inovação de toda a instituição. Entre em contato com a Mosaice e ajude a contribuir com a transformação da realidade organizacional.